Cidades com melhor reputação atraem mais investimento

Numa economia cada vez mais globalizada é hoje muito renhida a competição entre cidades de todo o mundo para a captação de investimento produtivo. O mais apetecível, dado o elevado nível de valor acrescentado gerado, é o investimento em tecnologias avançadas, nomeadamente tecnologias de informação.
Daí que as cidades cuidem cada vez mais da sua reputação, conscientes de que ela será um trunfo decisivo na hora da escolha final dos investidores. Dito de outra forma: quanto mais consolidada for a reputação de uma cidade, mais facilmente conquistará o investimento desejado.
São muito duras as batalhas que as cidades travam entre si para conseguirem captar os mais importantes investimentos tecnológicos. Cientes da sua força e da necessidade das cidades, as exigências dos investidores chegam a atingir patamares alucinantes como isenções fiscais, oferta de instalações, privilégios legais. Um sem fim de facilidades que chegam a parecer chocantes e se revelam muitas vezes inaceitáveis.
Foi o que aconteceu recentemente, por exemplo, com o diferendo entre a Amazon e a cidade de Nova Iorque. Foi selecionada entre dezenas de outras cidades candidatas para acolher a nova sede da empresa, mas, após um ano de intensas negociações, a Amazon acabou por se retirar para Washington por Nova Iorque não ter cedido às exigências do gigante de comércio eletrónico.
Há quem sustente que este episódio terá afetado, negativamente, a reputação de Nova Iorque. Mas, há, também, quem pense o contrário. Para estes, apesar de ter perdido um investimento avultado e a criação de mais de 25 mil empregos altamente qualificados, Nova Iorque terá preservado a sua imagem de poder baseada numa reputação muito forte: “Nós demos à Amazon a oportunidade de ser uma boa vizinha e fazer negócios na maior cidade do mundo. Em vez de trabalhar com a comunidade, a Amazon jogou essa oportunidade fora”, disse o Mayor Bill de Blasio, que tanto se esforçou para vencer a gincana. Já o senador Michael Gianaris, um dos mais firmes opositores às pretensões da Amazon, reagiu com uma analogia: “como uma criança petulante, a Amazon insiste que as coisas sejam feitas à sua maneira ou então agarra na bola e vai para casa”.
É certo que nem todas as cidades têm uma reputação tão forte como Nova Iorque e nem todos os dias aparecem oportunidades de negócio com a dimensão proposta pela Amazon. Mas também é verdade que os responsáveis das cidades já perceberam há muito que o futuro se joga na capacidade de atrair investimento. O que implica a criação de condições de excelência em áreas e dimensões vitais para o bom desenvolvimento dos negócios mais sofisticados e produtivos, com destaque para os tecnológicos. Falamos, enfim, da construção de uma reputação sedutora para quem investe.


As dimensões da reputação

E que dimensões são essas em que assenta a reputação de uma cidade? O City-RepTrak, uma ferramenta desenvolvida pelo Reputation Institute, identifica três dimensões fundamentais para uma cidade se afirmar no contexto internacional dos negócios: ter uma economia desenvolvida; possuir um ambiente atrativo; e apresentar uma governação eficaz.
Estas três dimensões são depois declinadas em variados atributos em que a segurança, a beleza paisagística e monumental e a credibilidade da liderança são os mais valorizados pelo painel de inquiridos do City-RepTrak.
Quer isto dizer que as cidades têm hoje à sua disposição instrumentos de estudo e análise que lhes permitem traçar planos estratégicos para melhorarem a sua reputação e o seu posicionamento nos rankings que induzem uma maior atratividade para o investimento.
O objetivo de colocar as cidades nos mapas dos investidores tornou-se uma prioridade para as suas lideranças. E o esforço para o atingir reclama um intenso trabalho de preparação e de comunicação das respetivas vantagens competitivas.


A onda portuguesa

Em Portugal, as duas principais cidades, Lisboa e Porto, estão muito bem colocadas nos diversos rankings de destinos turísticos, por exemplo, mas começam também a marcar pontos na atração de investimentos tecnológicos. Basta lembrar a visibilidade dada ao País neste setor pela realização da Web Summit na capital portuguesa.
A recente instalação em Lisboa de um centro de engenharia especializada da Mercedes Benz e de um centro de excelência tecnológica da BMW mostram que a cidade está a posicionar-se como um destino apetecível para investimentos em tecnologias de ponta.
De facto, a par do investimento feito na vinda da Web Summit para Lisboa (cerca de €110 milhões em 10 anos, com retorno calculado em €300 milhões), o Município tem apostado em múltiplos projetos que visam dotar a cidade de condições atrativas para a fixação de start-ups e empresas de matriz tecnológica.
É o caso da participação, juntamente com Londres e Milão, no projeto europeu “Sharing Cities”, que procura desenvolver o conceito de “smart city”. “Procura-se promover um desenvolvimento urbano inteligente e sustentável”, através da modernização de sistemas e da digitalização de processos, explica o coordenador do programa, Rui Franco. Uma aposta que pretende fazer de Lisboa um exemplo para outras cidades portuguesas, mas também um farol no desenvolvimento deste conceito a nível europeu.
Outra faceta visível da estratégia de melhoria da reputação e de captação de investimento é a construção de infraestruturas para acolhimento de projetos e empresas tecnológicas. É o caso do Centro de Incubação e Desenvolvimento – LISPOLIS, em Telheiras, que acolhe mais de uma centena de empresas; mas é, sobretudo, o caso do Hub Criativo do Beato, um investimento superior a €20 milhões e que vai ocupar parte das instalações da antiga Manutenção Militar, pretendendo sintetizar, segundo o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, “a visão de futuro sobre uma cidade”.
A jogar também no campeonato das “smarts cities” estão outras cidades portuguesas de menor dimensão, como é o caso de Viseu, que à sua escala tem promovido uma bem-sucedida estratégia de captar investimento tecnológico para o interior do País.
“Como não temos porto de mar, recursos naturais ou sequer uma linha de caminho de ferro, tivemos que reposicionar a marca Viseu e ancorá-la ao conceito de uma “smart city” que aposta na vertente da qualidade de vida através do desenvolvimento de três vetores: Tecnologias de Informação; Ambiente e Saúde”, explica o Presidente da Câmara, António Almeida Henriques.
E a verdade é que a estratégia tem já hoje resultados palpáveis: aproveitando os recursos humanos formados no Politécnico local e nas escolas da região, Viseu conseguiu captar a instalação de polos tecnológicos de cerca de uma dúzia de empresas (IBM, BizDirect, Critical Software, etc.), o que representou a colocação de mais de 300 novos engenheiros e a criação de numerosos outros postos de trabalho, com a redução da taxa de desemprego em 60%.
Reverter o despovoamento do interior é um objetivo central desta estratégia de melhoria da reputação da cidade de Viseu, que quer mais investimento, mas anseia também por ser capaz de reter mais talento.
“Os nossos recursos humanos tecnológicos estão esgotados, mas pretendemos captar mais talento no exterior para cumprir a meta de colocarmos mais 300 engenheiros até ao final deste ano”, sustenta o edil de Viseu, que para tal aposta no desenvolvimento de novas condições de atração para jovens quadros, nomeadamente nas áreas da habitação, muito mais barata do que nos grandes centros, dos transportes, do ensino ou da cultura.
Em suma, as cidades portuguesas sabem que não chega oferecer segurança, um clima ameno e bons recursos humanos a preços acessíveis. Na luta pela captação de investimento e de talento importa cuidar de todas as dimensões que assegurem uma melhor qualidade de vida e, não menos importante, saber comunicá-las, com um marketing territorial certeiro, a um mercado cada vez mais competitivo.